terça-feira, 31 de março de 2020

Dicionário Corográfico-Comercial de Angola, Antonito. 1ª ed

Num post antigo tinha já aqui no blog apresentado a 4ª e última edição desta obra, datando de 1959. Por um desses felizes acasos, em conversa com um amigo bibliófilo lamentei-me um dia de que tinha, na minha coleção, a 2ª (1948), 3ª (1955) e 4ª (1959) edições, mas não a 1ª. Acrescentei, aliás, que nem eu nem ninguém conhecido tinha alguma vez visto a 1ª edição. Anos e anos de procuras em alfarrabistas, em lojas tradicionais ou online, sempre em vão.
Uma procura imediata usando o telemóvel deu uma existência da 1ª edição no Khronosbazaar. Et voilà! Há dias felizes!



GRANADO, A. (1946) Dicionário Corográfico-Comercial de Angola Antonito, 1ª Edição, Luanda: Edições Antonito, 406 pp.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Marca AV2 (Heifetz tipo 11)



Sobrescrito registado, circulado de BRAGA (7.MAI.49) para Bulawayo, Rodésia do Sul (17.MAI.49). Circulado por LISBOA (8 MAI.49), Cairo/Aéroport Farouk (10 MAI 49), Cairo/Aéroport Farouk (15 MAI 49) e ?? (18 MAI 49). Selos da emissão Caravela (1948-49) de 1$20 e de 7$50 e do 3º Centenário do Nascimento de S. João de Brito de $30.
Portes: 1º porte 2$00+registo 4$00+sobr. CA 3$00 = 9$00
Marca AV2 (24mm x 7mm, Heifetz tipo 11) originária do Cairo.

Referências bibliográficas
Heifetz, M. (2006) O.A.T. and A.V. 2 Markings. 3rd. edition, Mineola, New York: American Airmail Society.

sábado, 28 de março de 2020

Série «CONHEÇA OS SEUS PROSADORES» - IP 111, #1


«Sempre é uma companhia»

O contador de histórias Manuel da Fonseca oferece-nos no seu retalho de Alentejo a representação da distância obliterada pela TSF. No início do conto, o Batola rumina, sonolento e murcho, a irredutível solidão da peneplanície alentejana. Uma «nuvenzinha de poeira” ao longe e o ronronar de um motor anunciam a peripécia que irá precipitar os acontecimentos. Um vendedor de telefonias acerca-se da venda do Batola, procurando convencê-lo a comprar uma. Apesar da resistência da mulher, a personagem acaba por ficar com um modelo, à experiência, por um mês.
A abertura para o mundo, reúne os moradores dispersos pela paisagem. O fim do mês depressa cai sobre os moradores da aldeia, deixando-os merencórios. O conto tem o seu desfecho com a mulher do Batola, que inicialmente fizera um ultimato - ou ela ou a telefonia –, a assinar a paz, declarando com um brilho de ternura nos olhos negros: «Olha… Se tu quiseres, a gente ficava com o aparelho. Sempre é uma companhia neste deserto.»

IP da série "CONHEÇA OS SEUS PROSADORES", emitido em janeiro de 1949, circulado de Pias (18 MAI 49) para  Los Angeles. Porte de 1$20 para bilhetes postais simples para o estrangeiro. Nº 111 do catálogo de Lamas e O. Marques (1985), IP #1 (A SAUDADE) - EL-REI D. DUARTE (Séc. XV).

Em 1949, o Sr. João António Rodrigues Pereira, alentejano de Pias, envia um inteiro postal (IP) da série “Conheça os seus prosadores” (com o selo impresso de Padre António Vieira) para os Estados Unidos. A mensagem é prosaica. Solicita o envio gratuito do livro “Suas Oportunidades em Rádio, Televisão e Eletrônica (sic)” e informação sobre preços e condições de matrícula nos cursos por correspondência em língua portuguesa. Não sei se o conterrâneo do Batola já era um aficionado do ensino a distância ou se, também ele, quereria vencer a distância, derrotando a solidão.
Ao enviar o IP emitido em janeiro de 1948, talvez tenha passado despercebida ao remetente a citação (truncada) do “Leal Conselheiro” e, ainda mais, o poder introspetivo da prosa de o Eloquente. A ironia suprema da situação, porém, está na reflexão sobre o sentimento indizível da saudade («suidade»), cuja etimologia do Latim é «solitas, -tatis», derivada do adjetivo «solus, -a, -um», que significam, respetivamente, ‘solidão, desamparo, retiro’ e ‘só, solitário’.
Em suma, reconheçamos: «Je suis Batola. Nous sommes tous Batola”.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Correio Marítimo - paquete alemão Njassa



Sobrescrito lançado a bordo do paquete alemão NJASSA (em 9 12 30) para Trieste, Itália, com selos de 60 C. e 80 C (CE 208 e 209), perfazendo o porte de 1$40.
Marca "DEUTSCHE SEEPOST / LINIE / HAMBURG / OSTAFRIKA / D".
Marca nominativa do paquete alemão "NJASSA", batida a violeta.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Postos particulares de correio - P.C. nº 5 PORTO




Carta circulada do Porto (data ilegível) para Olten (Suiça; 29 IX 36) com trânsito por Lisboa (24.SET 36).
Portes: cartas até 20 g - 1$75 + prémio de registo 2$00 = 3$75
A carta ostenta um carimbo do P.C. nº 5 do Porto. Em 1939, este posto de correio estava na Praça do Exército Libertador, nº37-38, tendo como encarregado Armando da Rocha Tôrres.
Este assunto dos postos particulares de correio foi abordado no forum Selos Postais em dois tópicos, pelo menos, embora algumas imagens tenham desaparecido, o que dificulta mas não impede a leitura.

Nota: obrigado ao Acácio Luz pela informação bibliográfica.

Referências bibliográficas
Boletim Oficial da Administração dos Correios, Telégrafos e Telefones de Janeiro de 1940.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Correio particular por mala diplomática - Moçambique (2)

Outra carta interessante, igualmente enviada de Lourenço Marques.
Neste caso o remetente é o "Cônsul Geral de Sua Magestade(sic) Britânica" (Claude Kirkwood Ledger). A carta foi remetida para Nova Iorque via superfície com selos da emissão do "Império Colonial", de 1 E. e de 80 C., superando em 5 C. o porte devido de 1$75. Apesar do encaminhamento em mala diplomática, a carta foi censura à chegada aos Estados Unidos (ver cinta de censura) e transitou por Wasington (JUL 30/ 9 PM/ 1943).
Ostenta a marca "This article originaly mailed/in country indicated by postage", batida a violeta, e o carimbo "MA/from/FC" - 22mm x 17,5mm, colocado à chegada, no Departamento de Estado em Washington.


terça-feira, 24 de março de 2020

Correio particular por mala diplomática - Moçambique

Na sequência de um par de mensagens publicadas AQUI em 2008 e em 2012, volto ao tema para mostrar cartas semelhantes enviadas das ex-colónias. Neste caso particular, iremos observar uma carta enviada pelo Cônsul Geral dos Estados Unidos em Lourenço Marques (Austin R. Preston) para Nova Iorque. Circulou via superfície: 1$75 para cartas até 20 g. para o estrangeiro. Selo do "Império Colonial Português" anulado a caneta.
Ostenta a marca "This article originaly mailed/in country indicated by postage", batida a violeta, e o carimbo "AM-M /from/FC" - 22mm x 17,5mm, colocado à chegada, no Departamento de Estado em Washington.

domingo, 15 de março de 2020

Demora de encaminhamento do correio #1 - WW II

O título algo irónico tomado de empréstimo aos modernos "Índices anuais qualidade" dos CTT serve de pretexto para olharmos para correspondências sujeitas à ação dos dispositivos de censura de vários países durante a Segunda Guerra Mundial.
A carta apresentada levou quase três anos para chegar ao destinatário, tendo circulado de Lisboa (‑2 AGO 1943) para Fort de France / Martinica (29‑3 /46). Tem selos das emissões “Lusíadas” 1933 (5$00) e “Caravela” 1943 (1$00 e 1$75), perfazendo o porte de 7$75: 1$75 – cartas até 20 g, nas correspondências para os países estrangeiros (Declaração 14/07/1934); 6$00 – sobretaxa de correio aéreo (Circular nº 113 DSE 2). 
Foi censurada e apreendida pelas autoridades britânicas nas Bermudas, tendo sido libertada após a guerra – aplicação da marca “RELEASED”. Talvez porque o seu destinatário já não se encontrava em Fort de France em 29 de março de 1946, a carta foi reexpedida para Paris (rasura e registo de nova morada a vermelho).



A carta terá sido transportada num voo do clipper "California" da PAN AMERICA com partida de Lisboa em 5 de agosto e destino a Nova Iorque, via Bolama (Wilson, 2012). O avião partiu de Lisboa a 5 de agosto e fez as seguintes escalas, de acordo com Wilson (2012): Bolama (6/8/43) / Fisherman’s Lake (6/8/43) / Natal (9/8/43) / Belém (9/8/43) / Port of Spain –Trinidad (10/8) / S. Juan – Porto Rico (10/8/43) / Bermudas (11/8/43) / Nova Iorque (11/08/43). 

O voo experimentou problemas técnicos com avarias do motor da aeronave, o que obrigou à permanência de mais um dia em Fisherman’s Lake (partida a 8/9/43) e em S. Juan (partida a 11/08/43). À partida de Lisboa, o avião transportava 1230 libras de correio, o que corresponde a cerca de 560 quilogramas.
Quanto às razões da apreensão desta carta pelos serviços da Censura Imperial Britânica, podemos apenas especular. Embora o seu destino possa parecer a esta distância no tempo algo inofensivo, importa referir que as Antilhas Francesas permanecem leais a Vichy. Em Fort de France, Martinica, existia uma importante base naval onde se encontrava parte da frota francesa que aí se refugiara após a capitulação de França em junho de 1940. A saber: o porta-aviões Béarn (com os aviões), o cruzador Jeanne D’Arc e o cruzador Emile Bertin, que trouxera cerca de 300 toneladas do ouro do banco de França. Os mais de 5000 marinheiros estacionados nas ilhas asseguravam a fidelidade ao regime de Vichy e ao seu representante direto, o almirante Robert.

As Antilhas tinham importância estratégica para a segurança do canal do Panamá. Além disso, eram também importantes devido a certas matérias-primas. Por exemplo, nas ilhas de Curaçao e Aruba, era refinado pela Royal Dutch Shell o petróleo da Venezuela.
Outra possibilidade para a apreensão da carta poderá ter a ver com o seu destinatário, Marcel Calvy. Nos anos 40, um certo Marcel Calvy – não foi possível apurar se se trata do mesmo indivíduo ou de um homónimo – terá vivido em Fort de France, desempenhando um cargo na administração pública local.
Apesar do contexto de guerra à escala mundial e das peripécias que sofreu, registe-se a entrega da correspondência ao seu destinatário, 32 meses após a expedição - uma nota otimista face à adversidade. 

Referências bibliográficas
COSTA, Manuel Luís (2018) "O correio apreendido pela censura Britânica nas Bermudas durante a II Guerra Mundial" in Boletim do Clube Filatélico de Portugal nº 461.
FLYNN, Peter A. (2006) Intercepted in Bermuda. The Censorship of Transatlantic Mail during the Second World War. Chicago: The Collectors Club of Chicago.
PROUD, Edward B.(2008) Intercontinental Airmails. Volume One. Transatlantic and Pacific. Proud Publications Ltd.
WILSON, John (2012) The Wartime Atlantic routes of Pan American Airways, http://www.wasc.org.uk/PanAm%20group.html (consulta efetuada em 15 de setembro de 2018).

Péssima ideia viajar como encomenda...

Talvez não tivesse sido necessário escutar um conto deliciosamente perverso de Lou Reed narrado por John Cale com voz de locutor de rádio p...