sábado, 4 de abril de 2020

Correio libertado após o fim da Segunda Guerra Mundial - Marcas "HELD BY"

A carta mostrada num post anterior, que chegou ao seu destino 21 meses após ter sido remetida, não é seguramente a recordista no que respeita à demora no encaminhamento das correspondências durante a Segunda Guerra Mundial. A carta seguinte foi igualmente apreendida pelos serviços da Censura Imperial Britânica, tendo chegado ao seu destino apenas 47 meses após a entrada no correio em Lisboa. 
Sobrescrito circulado de LISBOA (8 DEZ 41) para NOVA IORQUE (?11 FEV 1946). Portes:1$75 – cartas até 20 g, correspondências internacionais; 3$50 – sobretaxa de CA Circular nº 59 de 21-03-1941 (Soeiro 1997: 118 e ss.).


A carta foi transportada no Yankee Clipper – Lisboa (8/12) à Bermudas (10/12) (Proud 2008: 80); idem Flynn (2006: 150); referência à proveniência da Horta; Wilson (route 4) também confirma esta proveniência na introdução às tabelas, fazendo referência ao voo nº 470 (coincide com Flynn no número do voo).
À chegada às Bermudas, a carta foi censura e apreendida pelos ingleses, tendo-lhe sido aplicada a cinta de censura “P.C. 90 / OPENED BY / EXAMINER ??/ Form 167” – Tipo CL9b (Flynn 2006:59). 
Sobre esta cinta pode ser observada uma outra cinta/formulário aplicada no verso da carta, de cor amarela, com 4,15 cm de largura.
“Edge of Envelope” – cinta “P.C.93”
O lado esquerdo do formulário retangular tinha goma e era colado ao verso da carta. A restante parte do formulário era dobrada ao longo da frente da carta.
Parte do formulário, com indicação da razão para apreensão da correspondência (“Reason for condemning letter”), possuía um picotado para ser destacado e mantido em arquivo.
De acordo com a reprodução de Flynn (2006:98), este destacável, para além do espaço para registo da razão da apreensão da carta, permitia ainda o registo de informação sobre a sala (room) e mesa (table) da censura, o censor (examiner) e a identidade (ou iniciais?) do DAC (deputy assistant censor). 
Quando se verificava a remoção do destacável, por vezes permanecia colada ao verso das cartas (como sucede nos casos em apreço) a parte gomada do formulário com a legenda “Edge of Envelope”. No caso do sobrescrito em apreço, chegou até nós um pouco mais do formulário, tendo a sua remoção causado alguns danos ao sobrescrito.
Estas correspondências foram enviadas para Inglaterra e libertadas no início de 1946, tendo recebido a marca "RELEASED", batida a azul.
Tipo H 14B em Flynn (2006: 100-101)

A marca “HELD BY BRITISH CENS/RELEASED JAN’ 1946” foi aposta em Nova Iorque às cartas libertadas pela censura britânica, que aí chegaram num período de 5 semanas, entre 3 de fevereiro e 6 de março. Como nem a administração postal nem a censura americanas quiseram assumir a responsabilidade pelo atraso na entrega das correspondências, decidiu-se utilizar essa marca.

Tipo 2 em Flynn (2006: 101)

Poderá ter havido um lapso na reprodução da marca por Flynn. O apóstrofo é colocado após a palavra “RELEASED” e, no exemplar observado, aparece após a abreviatura do mês “JAN’” (ou então é um novo tipo) das marcas tipo 2 de Flynn  (2006: 101).


Referências bibliográficas
COSTA, Manuel Luís (2018) "O correio apreendido pela censura Britânica nas Bermudas durante a II Guerra Mundial" in Boletim do Clube Filatélico de Portugal nº 461.
FLYNN, Peter A. (2006) Intercepted in Bermuda. The Censorship of Transatlantic Mail during the Second World War. Chicago: The Collectors Club of Chicago.
PROUD, Edward B.(2008) Intercontinental Airmails. Volume One. Transatlantic and Pacific. Proud Publications Ltd.
WILSON, John (2012) The Wartime Atlantic routes of Pan American Airways, http://www.wasc.org.uk/PanAm%20group.html (consulta efetuada em 15 de setembro de 2018).

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