segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Caravela (4)

Correio Particular por "Mala Diplomática"
II Guerra Mundial


Num artigo publicado em (2004), o Cap. Lemos da Silveira descreve as condições de transporte de correspondências particulares em correio diplomático. Nesse estudo, o autor refere que, embora as disposições da UPU não permitissem o transporte de correspondências particulares (pessoais ou de entidades civis) em malas diplomáticas, o governo dos EUA assumiu a prática, desde que verificados os seguintes procedimentos:

"- o correio autorizado deve ser franquiado pelo expedidor com selos do pais de origem (tarifa aérea internacional)
- será transportado em mala diplomática para o Departamento de Estado (Mail Room) em Washington

- aí chegado, e após triagem, o correio das missões diplomáticas americanas será entregue à. Estacão Central do Correio da. cidade

- a ECC tem um serviço especial para manipular os objectos da mala diplomática., os quais , depois de obliterados com a marca do dia da estação, recebem o carimbo explicativo "This article originally mailed/in country indicated by postage"

- finalmente, essas correspondências entram no circuito normal do sistema postal interno." (op. cit., p. 7)
Observemos seguidamente duas cartas da minha colecção:


Fig. 1 - Sobrescrito circulado de Lisboa para Albany (EUA) com tira de 3 selos de 1$75 da emissão Caravela (1943) oblitarados por carimbo circular "WASHINGTON/AUG 1/18 pm/1943/d.c." O sobrescrito foi marcado com o carimbo explicativo "This article originaly mailed/in country indicated by postage".

Porte - carta para o estrangeiro 1$75 + sobretaxa de CA 3$50

Fig. 2 - Sobrescrito circulado de Lisboa para Nova Iorque com selos de 1$75 e 3$50 da emissão Caravela (1943) obliterados por carimbo circular "WASHINGTON D.C. 12/1944/OCT 30/1030 PM".

Porte - ver decomposição para a carta anterior.


Para além das cinco condições de admissão deste correio acima mencionadas, Silveira (2004) dá conta da marcação das correspondências com um carimbo à saída e outro à chegada.



Fig. 3 - Carimbo colocado à partida - APROVED FOR TRANSMISSION/
BY POUCH/AMERICAN EMBASSY/LISBON
- 31mm x 20mm

Fig. 4 - Carimbo colocado à chegada,
no Departamento de Estado em Washington - AM-M /from/FC - 22mm x 17,5mm



As duas marcas apresentadas aparecem no sobrescrito da Fig. 2.
Para além destas duas marcas, podemos observar outras na Fig. 1 que não são referidas no estudo de Silveira (2004). Assim, na embaixada americana em Lisboa existiam pelo menos duas marcas, que variavam apenas nas expressões AMERICAN EMBASSY e AMERICAN LEGATION:


Fig. 5 - APROVED FOR TRANSMISSION/BY POUCH/
AMERICAN LEGATION/ ??LISBOA??
- 31mm x??

Como podemos observar no sobrescrito da Fig. 1, à chegada poderia ser colocada uma marca distinta da mencionada por Silveira (2004):



Fig. 6 - MA/from FC - 23mm x 15 mm

No que respeita aos carimbos apresentados nas Figs. 4 e 6, encontramos diferentes propostas de interpretação.

Na revista TELL, Hall (1998:4-5) dá conta da existência de duas marcas "MA from FC" e "AM-M from FC", mas acrescenta que na bibliografia sobre o assunto nenhuma explicação é avançada para a leitura dos acrónimos. Face a esta dificuldade, avança uma interpretação intuitiva:

"One can only guess what they stand for . Here's a couple of mine : AM-M from FC,could be American Mail from Foreign Country; MA from FC, could be Mailed from Foreign Country " (Hall 1998: 5)

Os negritos são meus.

O autor dá ainda conta da existência de um 3º carimbo:

DC/M from FC

"DC/M from FC, could be District of Columbia/Mail from Foreign Country" (idem, ibid.)

No glossário on line Ask Phil, no entanto, é avançada outra interpretação para o acrónimo:

"boxed handstamps for diplomatic pouch mail indicating Division of Central Services/Mail from Foreign Country."

O negrito é meu.

Não possuo correspondências com origem em Portugal que ostentem esta marca.

Por sua vez, Boyle (1998) nomeia a existência de duas marcas - MA/from FC e AM-M/from/F C, mas limita-se a colocar uma hipótese de interpretação para as letras FC. De acordo com a sua hipótese, estas significariam Foreign Country.

Finalmente, Silveira (2004), embora cite legislação (UNIFORM STATE/AID/USIA REGULATIONS 334.3-4, Personal Mail), refere que a interpretação para o acrónimo AM-M/from/FC resultou de um trabalho de equipa promovido em conjunto com hisriadores postais da II Guerra Mundial. Assim, no entender do autor, o carimbo em causa significaria "Air Mail - Matter/from/Foreign Country" (op. cit., p. 8).

Para concluir, direi que sem a consulta da legislação americana que autoriza as correspondências pariculares por mala diplomática, continuamos sem saber com rigor qual a leitura dos acrónimos apostos no correio particular por "Mala Diplomática". Será, por conseguinte, necessário continuar o trabalho...

Referências bibliográficas
BOYLE Jr. Thomas (1998). Airmail operations during world war II. Mineola, NY: American Airmail Society.

HALL, D. (1998: 4-5) "Matterhorn Meanderings" in Tell VOL. XXIV, NUMBER 2.
SILVEIRA, Cap. F. Lemos, RDP (2004: 7-8). "Na segunda guerra mundial correio particular por "mala diplomática"" in A Filatelia Portuguesa nº 122 de Maio de 2004. Porto: Clube Nacional de Filatelia (http://www.filatelicamente.online.pt/r122/artigo_html/revista122_3.html)

Internet
http://www.selos-postais.com/forum/index.php?topic=5987.0

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