segunda-feira, 4 de maio de 2020

Péssima ideia viajar como encomenda...

Talvez não tivesse sido necessário escutar um conto deliciosamente perverso de Lou Reed narrado por John Cale com voz de locutor de rádio para concluir que a ideia de poupar uns cobres que não se tem a viajar como encomenda não será a melhor das ideias.
Bom, pelo menos o carteiro não saiu a perder. Sempre recebeu uma gorjeta. A Marsha e o Bill também não se saíram mal...

sábado, 2 de maio de 2020

Ideiafix, o mais pequeno selo francês (2009)

O intrépido cão de Obélix aparece pela primeira vez no álbum A Volta à Gália de Astérix, em 1965. É à passagem por Lutécia, junto a uma charcutaria, que o animal se faz notar ao leitor pela primeira vez.



Irá seguir os nossos heróis fielmente no périplo pela Gália, passando por Camaracum, Durocortorum, Lugdunum, Nicae, Tolosa, Aginum, Burdigala, para reunir as especialidades dessas famosas cidades francesas imprescindíveis para vencer a aposta (de dar uma volta à Gália) com o enviado de Júlio César, Lúcius Flordelótus. Porém, só se dá a conhecer a Obélix na penúltima vinheta da aventura, já de regresso à aldeia gaulesa, recebendo das mãos do construtor de menires um suculento osso de javali. 

Em 2009, pelo quinquagésimo aniversário de Astérix, o gaulês, os correios franceses emitem o mais pequeno selo francês (Yvert, 4429).



O batismo da personagem ocorre no âmbito de um concurso levado a cabo na revista Pilote, vindo os autores Goscinny e Uderzo a aceitar a proposta dos leitores.

These are my favourite things! 


terça-feira, 14 de abril de 2020

Marca “THIS ARTICLE / HAS BEEN HELD / BY THE OFFICE / OF CENSORSHIP”

Para além das marcas já apresentadas, que encaixam no período entre janeiro e junho de 1942, referido em Broderick and Mayo (1980: 34-35), podemos encontrar em correspondências igualmente enviadas para a Califórnia, em julho de 1943, a marca seguinte, disposta em 4 linhas:
Sobrescrito circulado de LISBOA (20 JUL 43) para Oceanside, California (EUA). Portes:1$75 – cartas até 20 g, correspondências internacionais; 3$50 – sobretaxa de CA Circular nº 113 de 31-03-1942 (Soeiro 1997: 130-134).
A carta terá sido transportada pelo Clipper Capetown, que fez escala nas Bermudas em 23 de julho, proveniente da Horta (Flynn, 2006: 157). Em Wilson (2012), o voo está inventariado na Rota 7, que funcionou de maio a outubro de 1942 e 1943 («Lati substitute "o" service»): Lisboa (22/7/1943) --> Horta (22/7/1943) --> Bermudas (23/7/1943) --> Nova Iorque (23/7/1943).



“THIS ARTICLE / HAS BEEN HELD / BY THE OFFICE / OF CENSORSHIP”
Altura das letras 3 mm
Comprimento 4,5 cm
Cor – PRETO
Broderick & Mayo (1980: 43) catalogam a marca como sendo do tipo S 6.1.1.  Ocorre batida a preto, tendo sido usada em New Orleans. 
No que respeita à identificação das balizas cronológicas de uso, os autores optam por não se comprometer com referências precisas, alertando para a necessidade de observar outras marcas do dia para completar o estudo dos objetos postais.


Referências bibliográficas
Broderick, Wilfrid & Dann Mayo (1980) Civil Censorship in the United States During World War II. Civil Censorship Study Group.
FLYNN, Peter A. (2006) Intercepted in Bermuda. The Censorship of Transatlantic Mail during the Second World War. Chicago: The Collectors Club of Chicago.
PROUD, Edward B.(2008) Intercontinental Airmails. Volume One. Transatlantic and Pacific. Proud Publications Ltd.
WILSON, John (2012) The Wartime Atlantic routes of Pan American Airways, http://www.wasc.org.uk/PanAm%20group.html (consulta efetuada em 15 de setembro de 2018).

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Tintim e a leitura dos clássicos

1. “Um clássico é um livro que nunca acabou de dizer o que tem a dizer.” (Calvino, 2015: 11)

No álbum As Joias de Castafiore, os nossos heróis estão enclausurados em Moulinsart. Não devido à ação insidiosa de algum vírus, mas antes porque a mobilidade do capitão é reduzida, consequência de uma queda, o que o deixa confinado a uma cadeira de rodas.
Sem o ritmo trepidante da narrativa de outros álbuns, neste saboreamos a comédia clássica, representada como num teatro, dentro de portas. Para os miúdos, porém, este não terá sido, certamente, um dos álbuns preferidos. Apesar dos hilariantes mal-entendidos e da resistência da diva em acertar com os nomes dos seus interlocutores, a imaginação da criançada fugia invariavelmente para os lugares exóticos e as viagens sem fim.
Há dias, enquanto me dedicava com desvelo a As Joias..., quatro vinhetas no fundo da página 43 adquiriram um inesperado interesse. Pela manhã, Tintim e Haddock leem ambos um livro, enquanto o pianista da cantora lírica executa de forma repetitiva as suas escalas. De súbito, os gritos de Castafiore anunciam o desaparecimento da sua esmeralda.


Que leem os nossos heróis? No caso de Haddock, impossível discernir. Nas mãos de Tintim, porém, parece possível identificar o clássico de Stevenson, L'île au Trésor (A Ilha do Tesouro).

2. “Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu primeiro os outros e depois lê esse, reconhece logo o seu lugar na genealogia.” (Calvino, 2015: 14)

O romance do escritor escocês chegou à minha mesa de leitura já adulto. O reconhecimento do "seu lugar na genealogia" foi imediato. As escunas, as ilhas tropicais, os mapas do tesouro (X marks the spot) e os piratas de perna de pau com o papagaio ao ombro, tudo encaixou no devido lugar.

O estribilho rouco dos piratas, "Lou-ou-ou e uma garrafa de rum!", nos filmes, nos livros, nos álbuns de Hergé, tinha finalmente encontrado a sua paternidade.

3. Num tempo em que tudo é calibrado pelo crivo da utilidade, lá virá a inevitável pergunta: «para que serve tudo isto?» Respondo, tomando de empréstimo uma citação em segunda mão de Cioran: «Enquanto lhe preparavam a cicuta, Sócrates pôs-se a aprender uma ária na flauta. “Para que te servirá?” perguntaram-lhe. “Para saber esta ária antes de morrer”».” (Calvino, 2016: 16).

CALVINO, I. (2015) Porquê Ler os Clássicos? Alfragide: Publicações Dom Quixote.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Marca «RELEASED BY AUTHORITY OF / THE DISTRICT POSTAL CENSOR» (var.) - WW2


Dando continuidade ao estudo do tema, mostro hoje uma marca semelhante à anterior, mas com linhas de comprimento diferente.

Sobrescrito de pequeno formato circulado de LISBOA (27 JAN 42) para Hollywood, Califórnia. Apresenta excesso de franquia (50c. e não 35 c. correspondentes ao porte de impressos). A marca «PASSED BY CENSOR» foi aplicada em New Orleans - Broderick & Mayo (1980: 38-39), entre Janeiro e Abril de 1942. Corresponderá ao tipo S 4.1.2, podendo aparecer batida em diferentes cores (preto, violeta e vermelho). 

Marca «RELEASED BY AUTHORITY OF / THE DISTRICT POSTAL CENSOR»
Altura das letras ±4,5 mm
Comprimento ±7 cm
Cor – VIOLETA

A marca foi aplicada em Los Angeles - Broderick & Mayo (1980: 34-35) -, tendo sido usada entre Março e Maio de 1942. Os tipos têm uma espessura mais larga que os da carta apresentada no post anterior. Está catalogada como sendo do tipo S 2.1.2 e aparece batida a violeta.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Marca «RELEASED BY AUTHORITY OF / THE DISTRICT POSTAL CENSOR» - WW2


Nas nossas coleções podemos observar marcas semelhantes à do post anterior, porém, contrariamente ao exemplo observado, não se trata de correspondências apreendidas pela censura inglesa nas Bermudas e posteriormente enviadas para Inglaterra, tendo sido lançadas no circuito postal no início de 1946.
Neste caso particular, podemos observar marcas de duas linhas como a que se observa seguidamente:

Sobrescrito remetido de LISBOA (25 JAN 42) pela empresa de transportes Manuel B. Vivas para LOS ANGELES. Selos da emissão "Lusíadas" com perfin da empresa (MBV), correspondendo ao porte de 4$75 (1$75 para cartas até 20 g + 3$50 de sobretaxa de CA). Foi intercetado pelos serviços da Imperial Censorship nas Bermudas.
“RELEASED BY AUTHORITY OF / THE DISTRICT POSTAL CENSOR”
Altura das letras ±4,5 mm
Comprimento ±7 cm
Cor – VIOLETA

A marca batida a violeta pode ser encontrada em correspondências enviadas para a Califórnia, tendo sido utilizada em Los Angeles, de acordo com Broderick & Mayo (1980). Por conseguinte, a carta passou pela censura americana como comprova a marca “RELEASED BY AUTHORITY OF / THE DISTRICT POSTAL CENSOR”, mas não há qualquer evidência de a carta ter sido aberta novamente nos EUA (por exemplo, não existe uma cinta de censura americana). Serviria apenas para sinalizar a passagem pela censura e um eventual atraso no seu encaminhamento.

A marca está catalogada por Broderick & Mayo (1980) como pertencendo ao tipo S 2.1.1, aparecendo batida a violeta.

Referências bibliográficas
Broderick, Wilfrid & Dann Mayo (1980) Civil Censorship in the United States During World War II. Civil Censorship Study Group.

sábado, 4 de abril de 2020

Correio libertado após o fim da Segunda Guerra Mundial - Marcas "HELD BY"

A carta mostrada num post anterior, que chegou ao seu destino 21 meses após ter sido remetida, não é seguramente a recordista no que respeita à demora no encaminhamento das correspondências durante a Segunda Guerra Mundial. A carta seguinte foi igualmente apreendida pelos serviços da Censura Imperial Britânica, tendo chegado ao seu destino apenas 47 meses após a entrada no correio em Lisboa. 
Sobrescrito circulado de LISBOA (8 DEZ 41) para NOVA IORQUE (?11 FEV 1946). Portes:1$75 – cartas até 20 g, correspondências internacionais; 3$50 – sobretaxa de CA Circular nº 59 de 21-03-1941 (Soeiro 1997: 118 e ss.).


A carta foi transportada no Yankee Clipper – Lisboa (8/12) à Bermudas (10/12) (Proud 2008: 80); idem Flynn (2006: 150); referência à proveniência da Horta; Wilson (route 4) também confirma esta proveniência na introdução às tabelas, fazendo referência ao voo nº 470 (coincide com Flynn no número do voo).
À chegada às Bermudas, a carta foi censura e apreendida pelos ingleses, tendo-lhe sido aplicada a cinta de censura “P.C. 90 / OPENED BY / EXAMINER ??/ Form 167” – Tipo CL9b (Flynn 2006:59). 
Sobre esta cinta pode ser observada uma outra cinta/formulário aplicada no verso da carta, de cor amarela, com 4,15 cm de largura.
“Edge of Envelope” – cinta “P.C.93”
O lado esquerdo do formulário retangular tinha goma e era colado ao verso da carta. A restante parte do formulário era dobrada ao longo da frente da carta.
Parte do formulário, com indicação da razão para apreensão da correspondência (“Reason for condemning letter”), possuía um picotado para ser destacado e mantido em arquivo.
De acordo com a reprodução de Flynn (2006:98), este destacável, para além do espaço para registo da razão da apreensão da carta, permitia ainda o registo de informação sobre a sala (room) e mesa (table) da censura, o censor (examiner) e a identidade (ou iniciais?) do DAC (deputy assistant censor). 
Quando se verificava a remoção do destacável, por vezes permanecia colada ao verso das cartas (como sucede nos casos em apreço) a parte gomada do formulário com a legenda “Edge of Envelope”. No caso do sobrescrito em apreço, chegou até nós um pouco mais do formulário, tendo a sua remoção causado alguns danos ao sobrescrito.
Estas correspondências foram enviadas para Inglaterra e libertadas no início de 1946, tendo recebido a marca "RELEASED", batida a azul.
Tipo H 14B em Flynn (2006: 100-101)

A marca “HELD BY BRITISH CENS/RELEASED JAN’ 1946” foi aposta em Nova Iorque às cartas libertadas pela censura britânica, que aí chegaram num período de 5 semanas, entre 3 de fevereiro e 6 de março. Como nem a administração postal nem a censura americanas quiseram assumir a responsabilidade pelo atraso na entrega das correspondências, decidiu-se utilizar essa marca.

Tipo 2 em Flynn (2006: 101)

Poderá ter havido um lapso na reprodução da marca por Flynn. O apóstrofo é colocado após a palavra “RELEASED” e, no exemplar observado, aparece após a abreviatura do mês “JAN’” (ou então é um novo tipo) das marcas tipo 2 de Flynn  (2006: 101).


Referências bibliográficas
COSTA, Manuel Luís (2018) "O correio apreendido pela censura Britânica nas Bermudas durante a II Guerra Mundial" in Boletim do Clube Filatélico de Portugal nº 461.
FLYNN, Peter A. (2006) Intercepted in Bermuda. The Censorship of Transatlantic Mail during the Second World War. Chicago: The Collectors Club of Chicago.
PROUD, Edward B.(2008) Intercontinental Airmails. Volume One. Transatlantic and Pacific. Proud Publications Ltd.
WILSON, John (2012) The Wartime Atlantic routes of Pan American Airways, http://www.wasc.org.uk/PanAm%20group.html (consulta efetuada em 15 de setembro de 2018).

Péssima ideia viajar como encomenda...

Talvez não tivesse sido necessário escutar um conto deliciosamente perverso de Lou Reed narrado por John Cale com voz de locutor de rádio p...